quinta-feira, 26 de agosto de 2010

UM SOLDADO DE URBINA

Por julgar dele indigna outra façanha
Como aquela no mar, este soldado,
A sórdidos ofícios resignado,
Obscuro errava pela sua Espanha.

Para apagar ou mitigar a sanha
Do real, procurava o sonhado
E doaram-lhe um mágico passado
Os ciclos de Rolando e da Bretanha.

Contemplaria, posto o sol, o ancho
Campo em que dura um resplendor de cobre;
Julgava-se acabado, só e pobre,

Sem se saber de música senhor;
Atravessando um fundo sonhador,
Por ele andavam já Quixote e Sancho.

Jorge Luis Borges

(Ruy Belo)

Sem comentários: