quarta-feira, 18 de agosto de 2010

MAR MORTO

A JORGE AMADO

A noite caiu sobre o cais, sobre o mar, sobre mim.

As ondas fracas contra o molhe são vozes calmas de afogados.
O luar marca uma estrada clara e macia nas águas,
Mas os barcos que saem podem procurar mais a noite,
E com as suas luzes vão pôr mais estrelas além.
O vento foi para outros cais levar o medo,
E as mulheres que vêm dizer adeus e cantar
Hoje sabem canções com mais esperança,
Canções mais fortes que a ressaca,
Canções sem pausas onde passe uma sombra da morte.
Velhos marítimos, para quem a terra é já a sua terra,
Olham o mar mais distante e têm maior saudade.
Pára o rumor duns remos.
Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte...

Penso em todos os que foram e andam no mar,
Em todos os que ficam e andam no mar também,
E a luz do farol, lá longe, diz talvez...

Alberto de Serpa

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