sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Às árvores regresso.
E como não
se eu nunca vi árvores?
Árvores, pois.
Árvores baixas e altas
de folha persistente ou não.
Nespereiras.
Uma oliveira gigantesca.
Uma araucária.
Romãzeiras talvez.
Detrás delas
rente ao muro
uma moita rasteira e hirsuta.
Talvez buxo.
Saltita lá um pássaro
pequeno e grisalho.

Pássaros?
Depois das árvores
só os pássaros me faltavam.
Os pássaros que eu também nunca vi
nem fazia ideia que existissem.
E muito menos aqui.
Este ao de leve se espaneja
com arrepios felizes.
Por duas vezes canta
antes de levantar voo.
Passa rente a mim.
Bate as asas
e no ar desaparece
deixando atrás de si um rasto de luz.
O eco do seu canto
eterno me parece.

[Comprovo agora
enquanto passo isto a limpo
noutra casa e noutra janela
a verdade desse pressentimento.
O pássaro de lá canta aqui, aqui, aqui
sem precisar de estar.]

António Cândido Franco

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