terça-feira, 17 de agosto de 2010

A MULHER ILUSTRADA

O inverno traz manhãs baças pelo vidro
e o frio vai-me desenhando na pele tatuagens
que resistem à superfície antes de se afundarem
na parede dos ossos. Desenham-me o riso na pele fina
das crianças, as olheiras por cima da noite em claro,
as rugas vincando o teu rosto como um mapa do metro,
as varizes desenhando nas pernas o que te ia nos braços.

O homem do quiosque sorri pelo vidro, o cheiro do café
atravessa a rua como bálsamo sobre o corpo em chamas
nesta manhã de inverno. As tatuagens desenham-me a pele
enquanto nos tocamos sob o aroma do café.
É fácil perdê-las, a pele não guarda vestígios,
mas abre-se para dentro e deixa nos ossos um visco
espesso, um vómito coberto pela maquillage.

Rosa Alice Branco

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