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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Última Colheita

autor: Francisco Costa (Sintra, 1900-1989)
título: Última Colheita
subtítulo: Poesia e Biografia
edição: do Autor
local: Sintra
ano: 1987
capa: gravura de William Burnett
págs.: 111
dimensões: 26,5x20x0,7 cm. (brochado)
impressão: omisso
obs.: «Esboço de Autobiografia Literária», pp. 66-111

sábado, 4 de setembro de 2010

DEO QUAE A DEO

Na verde serra onde vivo, entre arvoredos e fontes,
vejo a neblina que passa, roçando a crista dos montes,
e mais acima, castelos, que a lenda veste de bruma,
enquanto o mar, muito ao longe, rebenta em vagas de espuma.

Na velha igreja afonsina, onde fui a baptizar,
com minha doce metade formei autêntico par;
e, dois num, lá confiámos ao Jardineiro incriado,
as lindas flores nascidas do nosso beijo sagrado.

Desço ao campo, dia a dia, levando os montes comigo,
a a meu modo cavo e lavro, para ter meu pão de trigo,
mas à tarde enxugo a testa e do meu ócio disponho,
tecendo com sol e névoa as filigranas do sonho.

E embora mostre, vivendo, que só de sonhos sou rico,
não desconheço a miséria dos palácios que edifico:
palácios cheios de nada, vazios em quanto meus,
nos quais a Deus só consagro o que me é dado por Deus.

Francisco Costa

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Verbo Austero

autor: Francisco Costa (Sintra, 1900-1988)
título: Verbo Austero
edição: 1.ª
prefácio: Fidelino de Figueiredo
local: Lisboa
editora: Parceria A. M. Pereira
ano: 1925
capa: Martins Barata
páginas: XV+114
dimensões:19,2x13x1,2 (cartonado)
tipografia: Parceria A. M. Pereira


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

DIA NEGRO

Toda esta noite um vento de agonia
lançou gemidos pelo espaço fora;
e foi tão baço o despontar da aurora,
que não sei afinal se já é dia.

No chão, em cada poça de água fria
um tronco nú em lentos pingos chora,
e o vulto da montanha mal aflora
da névoa que nas cristas se desfia.

O vento apaziguou-se, mas a noite
deixou sinais do seu raivoso açoite
no dia negro, regelado, triste.

E só me aquece este álgido conforto:
é bom que tudo esteja quase morto
se além de nuvens pouco mais existe.

Francisco Costa

terça-feira, 12 de agosto de 2008

INTANGÍVEL

«Nuvem, sonho impalpável do desejo»
ANTERO.
Essa que eu amo e beijo e não existe,
embora exista em mim que a beijo e amo,
nunca há-de vir um dia em que eu a aviste,
nunca a voz hei-de ouvir-lhe quando a chamo.

Mas não me fugirá. Por mais que diste
quando eu a sua ausência já proclamo,
assim que me percebe fraco e triste
volta, e eu volto a sentir-me escravo e amo.

Sei que é uma visão, sei que a componho
eu mesmo, à semelhança do meu sonho,
dando-lhe a luz fictícia que ela emite.

Mas se à minha alma pode enfim bastar
essa alma ideal, -- o meu sedento olhar,
esse procura um corpo onde ela habite.
Francisco Costa