vejo a neblina que passa, roçando a crista dos montes,
e mais acima, castelos, que a lenda veste de bruma,
enquanto o mar, muito ao longe, rebenta em vagas de espuma.
Na velha igreja afonsina, onde fui a baptizar,
com minha doce metade formei autêntico par;
e, dois num, lá confiámos ao Jardineiro incriado,
as lindas flores nascidas do nosso beijo sagrado.
Desço ao campo, dia a dia, levando os montes comigo,
a a meu modo cavo e lavro, para ter meu pão de trigo,
mas à tarde enxugo a testa e do meu ócio disponho,
tecendo com sol e névoa as filigranas do sonho.
E embora mostre, vivendo, que só de sonhos sou rico,
não desconheço a miséria dos palácios que edifico:
palácios cheios de nada, vazios em quanto meus,
nos quais a Deus só consagro o que me é dado por Deus.
Francisco Costa
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