terça-feira, 21 de setembro de 2010

JANELAS DE ESTREMOZ

Janela fechada,
cortina corrida...
Nem flor a perfuma,
nem moça a enfeita.
--: Ninguém se lhe assoma.
Janela tão triste,
nem ao Sol aberta...

Em toda a cidade
se repete a história
mil vezes; mil vezes,
se olhares a janela
ou desta ou daquela
casinha caiada,
a vês divorciada
do Sol e de tudo
que graça lhe dera.

Há vinte janelas
na casa da esquina?
-- Na rua de cá
dez estão fechadas;
outras dez, fechadas
na rua de lá.
Ah! tão retraídas!
Ah! tão agressivas!

Que pessoas vivas
foi que as condenaram?

Ó janelas mudas,
pobres prisioneiras!,
que pessoas vivas,
por que expiação,
vivem na prisão
em que vos meteram?

-- sem sol que as aquente...
sem flor que as alegre...

Janela cerrada,
cortina descida...
Mocinha escondida
por trás da janela
-- quanto mais não vale
a rosa encarnada
que a rosa amarela!...

Sebastião da Gama

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