quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A humidade escorre pelas paredes.
A tinta retorce-se.
Grelado nas paredes
diz a vizinha.
Certo.

Em cima da mesa
os jornais estão cheios de cotão.
Deixá-los estar.
Também lá dentro
no quarto
a minha mãe se deixa estar.
A tudo isto pertence.
É preciso não a incomodar.
Tem o coração cansado
os olhos com pó.
Caruncho, diz ela.
É verdade.
Que noite pavorosa
por esse corpo vai.

Mas sem essa noite
que seria do meu dia?
Breu?
Nada?
Horror?
Uma mãe
mesmo depois de morta
dá-nos o seio.

Que é a Via Láctea
senão o leite da nossa eterna inocência?

António Cândido Franco

6 comentários:

claras manhãs disse...

Só espero que os meus filhos venham a pensar o mesmo de mim

nas asas de um anjo disse...

ui...é um poema intenso, pela negatividade q descreve (do ambiente húmido...)e pela doçura (amor filial) com q termina.

Ricardo António Alves disse...

Minucha: a mãe está sempre a amparar-nos, não é? A minha, está.

Asas (afinal como é que você se chama?...): concordo consigo.

nas asas de um anjo disse...

ana margarida (",)

Ricardo António Alves disse...

Oh, Ana Margarida, eu já sabia... ;)

nas asas de um anjo disse...

já sabia?
como?(",)

(leu o "soletra-me"?)