A tinta retorce-se.
Grelado nas paredes
diz a vizinha.
Certo.
Em cima da mesa
os jornais estão cheios de cotão.
Deixá-los estar.
Também lá dentro
no quarto
a minha mãe se deixa estar.
A tudo isto pertence.
É preciso não a incomodar.
Tem o coração cansado
os olhos com pó.
Caruncho, diz ela.
É verdade.
Que noite pavorosa
por esse corpo vai.
Mas sem essa noite
que seria do meu dia?
Breu?
Nada?
Horror?
Uma mãe
mesmo depois de morta
dá-nos o seio.
Que é a Via Láctea
senão o leite da nossa eterna inocência?
António Cândido Franco
6 comentários:
Só espero que os meus filhos venham a pensar o mesmo de mim
ui...é um poema intenso, pela negatividade q descreve (do ambiente húmido...)e pela doçura (amor filial) com q termina.
Minucha: a mãe está sempre a amparar-nos, não é? A minha, está.
Asas (afinal como é que você se chama?...): concordo consigo.
ana margarida (",)
Oh, Ana Margarida, eu já sabia... ;)
já sabia?
como?(",)
(leu o "soletra-me"?)
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