Na minha vida,
Que a mesma vida apagava;
E a pobre realidade era uma cinza...
...Já nada me recordava
Se, de entre ela uma faulha
Não me queimasse os sentidos.
O fogo das queimaduras
É dor que nunca me passa!
E é esta que me ressurge
Um pouco dessa luz-alma
De tantos momentos idos...
A inquieta luz sempre de agora
Que ao mundo nada desvenda,
A mim diz certa verdade,
A chã naturalidade
Nas coisas vãs da legenda.
Talvez ninguém me acredite,
E se ria,
Quando grave eu me recite;
Mas recitar-me, cantar,
Mesmo cansada a memória,
Teria de acontecer:
É comigo,
Bem viva enquanto eu viver
A minha inútil história...
Edmundo de Bettencourt
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