sábado, 18 de dezembro de 2010

NAUFRÁGIO

Erraste muito tempo sem saber
quantos anos durou dentro de ti
a primavera         Nada
nessa água te lava já o rosto
ou que deles resta submerso
nas correntes marítimas da morte
como líquido espectro ou colorida
anémona          A memória
mascara pouco a pouco essas imagens

Erraste sem saber qual a matéria
da tua vida          O fogo
acendeu hoje a casa do teu corpo
tão cedo arruinado e tu naufragas
nessa doce catástrofe
na espuma desse mar        Qual o instante
em que o verão se transforma no outono
se o arrepio da noite quando chega
parece ainda um luminoso dia?

Fernando Pinto do Amaral

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