a que[n] me sempre desamou,
e podess' algun mal buscar
a quen me sempre mal buscou!
Assi me vingaria eu,
se eu podesse coita dar
a quen me sempre coita deu.
Mais non poss' eu enganar
meu coraçon, que m' enganou,
por quanto me fez desejar
a quen me nunca desejou.
E por esto non dormio eu
se eu podesse coita dar
a quen me sempre coita deu.
Mais rog' a Deus que desempar
a quen m' assi desamparou,
vel que podess' eu destorvar
a quen me sempre destorvou.
E logo dormiria eu,
se eu podesse coita dar
a quen me sempre coita deu.
Vel que ousass' eu preguntar
a quen me nunca preguntou,
por que me fez em si cuidar,
pois ela nunc' en mi cuidou.
E por esto lazeiro eu,
se eu podesse coita dar
a quen me sempre coita deu.
Pero da Ponte
2 comentários:
Parece sair do Trovadorismo. Uma cantiga de amor, portanto.
Mas estranho, porque o eu lirico não é tão submisso, nem presta a vassalagem, assim 'de giolhos'. A coita que, no vassalo era destino - e sarna para coçar- aí vira revolta e...quer vingança.
A subjetividade tomou lugar. Qdo teria sido escrito? Talvez, no tempo da poesia palaciana, já na baixa Idade Média qdo o eu lírico já punha manguinhas de fora. Se não, é uma brincadeira dum outro tempo qualquer, possível século XX. Não conheço o poeta , daí não saber o tempo, mas ter vontade de saber.
O vassalo que é vassalo carrega sua coita sem ímpetos de ódio, este,apenas se manifestando num tom repetido, de refrão ou mote.
De coita d' amor, revoltando-se...
Tem toda a razão, Rose. Pero da Ponte foi um segrel das cortes de Fernando III e Afonso X, o Sábio, século XIII, portanto. Pensa-se que era galego.
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