quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

PENA DE MORTE

Eram bastante bons
aqueles tempos de ódio,
em que planejávamos nossos assassinatos,
pelo simples prazer de nos vingarmos:
eu te via com os dedos na tomada,
tu me vias sufocada pelo gás.
Tempos em que sorrias ao atravessar a rua,
e eu achava graça em ser atropelada;
tempos em que queríamos fazer um filho
para espancarmos juntos,
nos dias de ócio;
em que eu te servia de escarradeira,
em vez de cozinheira e passadeira.
Depois veio o amor,
que é como um lenço em que se assoa,
ou mãe que chicoteia e nos perdoa.
Hoje afago-te as corcovas
e lustro-te as botas novas.

Leila Miccolis

2 comentários:

rose marinho prado disse...

Você conhece essa escritora?
Você conhece muita coisa.

Ricardo António Alves disse...

Muito mal, Rose. Tenho-a representada numa antologia de poesia brasileira publicada aqui nos anos 70.