quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

NOSSA SENHORA

Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira
Arrancada a um Calvário de capela.

Põe as mãos com fervor e angústia. O manto
Cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe das Dores, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe: -- «A sua benção, Mãe!»

Sim, fazemo-nos boa companhia,
E não me assusta a sua dor: quase me apraz.
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia!
Só isto bastaria a me dar paz.

-- «Por que choras, Mulher?» -- docemente a repreendo.
Mas à minh'alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo:
-- «Não é por Ele...»
                 -- «Eu sei! Teus filhos somos nós».

José Régio

Sem comentários: