sábado, 25 de junho de 2011

Eu pertenço à sonolência deste azul,
à nudez das estátuas de areia
povoando a solidão nocturna das praias.
Fui com os pescadores e voltei,
volta menino para que os que te amam
não sofram a ansiedade da espera.
Trouxe conchas e peixes de prata,
cachos de estrelas e redes de vento
e mergulhei na água que sabia a óleo
e bebi a aguardente dos náufragos
e acreditei nas histórias da viuvez
das mulheres agachadas nas dunas.
Eu podia ter sido marinheiro,
pescador das pérolas que há no êxtase
da palavra, eu podia ter sido tudo,
mas acabei por desembocar numa baía
com o assombro da infância
a falar-me de sereias e de fadas junto à cama.

José Jorge Letria

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