sexta-feira, 24 de junho de 2011

CREPÚSCULO

Paira no azul do céu, fino, leve, de espuma,
um dolente languor de mulher tropical.
Há, na sombra que desce, um adejar de pluma...
Choram pelos jardins repuxos de cristal.

Tal um fumo sutil, sobe no espaço a bruma.
Não tarda o luar... pois já no olente laranjal
piscam centelhas de ouro, e ainda, entre as folhas, uma
palpitação fugaz de pedraria ideal.

Calam-se na distância as estivais cigarras,
cruzam morcegos o ar. Que estranha melodia
crava na alma da gente as sibilinas garras!

Que tumultos, que ondear de dúvidas, que vão
desejo de sofrer! Que lágrima sombria
cai no vazio horror do nosso coração!

Ronald de Carvalho

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