sexta-feira, 3 de junho de 2011

CONFISSÃO

No silêncio pesado do caminho,
ouviu-se um passo, cadenciado
na firmeza das horas decisivas.

A sentinela bradou:
                              -- Quem vem lá?...

O Homem podia ter respondido
qualquer coisa parecida
com: «gente de paz»...

Mas não. Onde a paz,
se no seu peito ardiam agonias
enraivadas,
se nos seus olhos boiavam
visões de fogo e de morte,
e as suas mãos,
(ó belas, generosas mãos!)
vinham ainda tintas
dos sangue dos camaradas?...
Não trocou portanto as falas.

Respondeu simplemente, sombriamente:
                   -- EU!

E a sentinela, varou-o com três balas.

Lisboa, 1949 (Maio)

Alda Lara

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