sexta-feira, 3 de junho de 2011

Alongado no leito, e a noite silenciosa,
Mal eu cansados olhos ao repouso dava,
Quando o cruel Amor me agarra p'los cabelos,
Me acorda e manda que em su' honra eu vele.
«Ó escravo meu, me diz, ó tu que a mil amaste,
Sòzinho jazes só, ó duro peito, aqui?»
Descalço e semi-nu, atiro-me p'ra fora,
Pelos caminhos vou, sem que caminho encontre.
E sigo sempre, e paro, e no parar hesito
Entre a vergonha de ir e o tédio de voltar.
Calam-se humanas vozes, e da rua os ruídos,
Ave nenhuma canta, e sequer ladram cães.
De tudo, apenas eu me atrevo a estar desperto,
Obedecendo ao império, Grande Amor, de ti.

Petrónio

(Jorge de Sena)

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