quinta-feira, 14 de outubro de 2010

SONETO DITADO NA AGONIA

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torna sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse pura!

Eu me arrependo. A língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade
Que atrás do som fantástico corria:

-- «Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!»

Bocage

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