terça-feira, 16 de novembro de 2010

O CÃO E O CACHORRO

I

Não galgo, olho azul,
fidalgo.
Mas um simples cachorro.
Já seco.

Não cão
de uma constelação.

Mas um simples cachorro
de beco.

Não um cão do rei
Artur.

Mas um simples cachorro
tout court.

Já reduzido a um osso,
de magro.

Osso comendo um osso:

O osso que ele é,
por fome;

e o osso que ele come.

Cassiano Ricardo

4 comentários:

rose marinho prado disse...

Que Cassiano Ricardo é esse? O brasileiro, modernista? Não conhecia esse poema.

Ricardo António Alves disse...

É mesmo ele.

rose marinho prado disse...

P pertencer à corrente nacionalista mais ferrenha, o movimento Verde Amarelo, acho que ficou , ou melhor, foi colocado , meio de lado. No Brasil, quase não se publicam os poemas dele.
Estranho...Esse preconceito, essa cisão, isso que fazem com os artistas. Ora incensam; ora, atiram pedras. Por quê?
Eta mundo!

Ricardo António Alves disse...

É sempre assim, não é, Rose?
Mas, como estou sempre a dizer, o tempo é impiedoso, e tanto fará um autor ter sido nacionalista ou internacionalista, castiço ou cosmopolita, de esquerda ou de direita, devoto ou herege, casto ou devasso... Desde que continue a dizer alguma coisas às pessoas, elas vão lê-lo. É fatal.