ai meu amigu' e meu namorado;
mais non ous' oj' eu con vosc' a falar,
ca ei mui gran medo do irado;
irad' aja Deus quen me lhi foi dar.
En cuidados de mil guisas travo
por vos dizer o con que m'agravo;
mais non ous' oj' eu con vosc' a falar,
ca ei mui gran medo do mal-bravo;
mal-brav' aja Deus quen me lhi foi dar.
Gran pesar ei, amigo, sofrudo,
por vos dizer meu mal ascondudo;
mais non ous' oj' eu con vosc' a falar,
ca ei mui gran medo do sanhudo;
sanhud' aja Deus quen me lhi foi dar.
Senhor do meu coraçon, cativo
sodes en eu viver con quen vivo;
mais non' ouso oj' eu con vosc' a falar,
ca ei mui gran medo do esquivo;
esquiv' aja Deus quen me lhi foi dar.
D. Dinis
2 comentários:
As Cantigas de Amigo dão voz à mulher , pela primeira vez, na Península Ibérica. E, mesmo que o escritor fosse homem, este tinha sensibilidade p decerto expor a psique feminina, pra mim, bem menos trágica que a dos homens.
Há leveza na cantiga de amigo - e nem me refiro à forma, mas ao tom de lamento.
Quem seriam os homens pelos quais choravam? Servos da gleba ou os vassalos que cuidavam das Senhoras?
Esse D Diniz foi incrível!
Engraçado, nunca li, acho que não há , cantiga em que um homem do povo sofra por uma mulher do povo. Sempre é a Senhora que não deixa de ser o signo do Senhor Feudal? Talvez fosse ele mesmo...Vai saber...
O D. Dinis foi mesmo o tal, um dos nossos maiores reis.
Pois, Rose, nunca pensei nisso. À partida, o jogral, que era vilão, homem do povo, poderia exprimir esse sentimento; mas essa vontade de Senhora, numa época de tão grande estratificação, dá logo, pelo interdito, um interesse acrescido à coisa, julgo eu...
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