domingo, 24 de outubro de 2010

A SOMBRA (tradução de um poema de uma língua desconhecida)

     Foi ali que um dia sentiu desejos de partir também. Que ficava fazendo sozinha? Quem leva uma lança, leva a mulher também.

     O seu xale negro tem um segredo, e o seu mal de morte vem do mesmo dia.

     Os anos correram sem novas algumas, e as moças finaram-se velhas, velhas de tanto esperar.

     E todas as noites, na margem sombria, uma silhueta franzina de trágica sonâmbula vai seguindo, como um braço murcho de cipreste a boiar ao de cima da corrente que o vai levando -- mansamente.

Almada Negreiros

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