terça-feira, 12 de outubro de 2010

EUGÉNIO

Trouxe para as névoas da cidade
o ouro dos trigais, a brancura
da cal que os mouros deixaram
por herança, como a nora
que sempre deu água ao seu moinho.
Percorreu as ilhas da história para
britar a pedra, esmiuçar os alicerces,
começando a amar as maresias,
a areia suave, as luzes das arribas,
e quando o coração se lhe partia
escrevia um poema onde o sol
entrava pelos ossos, dourava a saudade
e punha as aves negras a voarem
para longe, estrelas do desgosto
que as nuvens arrastavam para fora
do horizonte. As cintilações
de Setembro reverdecem
o que a memória decantou, o mar
a que a errância da memória
sempre volta. Folhas secas
aparentes, que formam um tornado
luminoso que bate à sua porta.
E a porta abre-se... o mar está ali.

1999

Egito Gonçalves

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