E sou, seu Mestre antigo e venerável.
No princípio do mundo, tempo incerto,
E quando a terra apenas aflorava
Num ar entorpecido, torvo e inútil,
Pois não surgira ainda vida viva
Que o respirasse em folha de verdura
Ou ave acasalada ou fera uivante;
No princípio do mundo (na incerteza,
no Tudo e Nada do começo) arfando
Em meus ondados, espraiados ritmos,
Eu fui o que ensinei primeiramente
A Terra inconsciente, agreste e rude,
Artes de Amor divino; quer erguido
Em aluado espasmo; quer beijando
Morna nudez de fragas; quer cingindo,
Com meus longos abraços de volúpia,
Indecisos contornos de montanhas,
Puberdade de curvas amorosas.
E depois que ensinei minha arte antiga
É que a Terra foi Mãe e foi mais bela:
As duras fragas conceberam fontes.
As fontes conceberam as verduras.
As aves construíram os seus ninhos.
E as feras monstruosas, ternamente,
Caros filhos do Amor amamentaram...
António Correia de Oliveira
2 comentários:
A presença do subjetivismo na construção do mundo do poema. Um mundo revisitado, porque é mundo, mas novo na palavra.
( No Brasil a poesia atual corre linha d q não gosto...acho que isto, depois dos anos 1950...Veio o concretismo - detesto - e assim...Hoje é pouco o que encanta)
Pelo que sei da poesia daí, ela é abundante e diversificada, e deve haver para todos os gostos -- como cá. Aliás, vocês têm grandes poetas vivos: o Carlos Nejar, o Ferreira Gullar...
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