ao MANUEL MENDES
Sentado à minha varanda,
Contemplo a noite que desce
E a rosa
Que puseste no meu peito.
E, largo tempo,
Ficando silencioso,
Oiço uma voz que me fala...
-- Que voz é esta,
Tão incisiva, tão pura,
Que me pede que acredite
E tenha fé no destino?
Inclino a fronte, -- medito
No altíssimo desejo
Que anda comigo
E sobe a cada momento!
Nas ramas do arvoredo,
O vento,
Passando, diz qualquer coisa.
A sombra cai,
De repente, volumosa.
Mal distingo as minhas mãos.
E ao pé de mim
Tomba o corpo
Fino e frágil dessa rosa...
Londres,
Março 1927
António Botto