Rio por entre montes sem ter leito,
É fonte que brotou e não correu,
Que nasceu e secou dentro do peito...
A vida, a vida é qual água corrente
Que foge sem se ver por entre abrolhos.
Vem da fonte do amor -- água que sente --
E vai do peito para os nossos olhos.
A vida é ser-se lume, é ser-se brasa,
É ser aqui Desejo, ali Cuidado,
É um querer voar e não ter asa,
-- Um corpo de mulher todo apertado. --
A vida é uma rocha onde me agarro
E abraço, co'as mãos da Ânsia e do Amor;
Envolve-me cingindo o grande Vago,
E espreita-me a Morte em derredor.
A vida é o nosso amor feito escultura:
É tudo o que se aperta e que se adora.
Beleza de mulher que pouco dura --
A vida são mil anos numa hora.
A vida é um mudar-se a cada instante,
É um andar o tempo assim mudado;
É tomar um minuto por distante,
É ter por Sempre o tempo bem contado.
Luís de Montalvor
2 comentários:
revisitado Camões! Lindo isso..que coisa boa de ler..
É mesmo Camões revisitado. Ainda bem que gostou deste poema do Montalvor, um dos poetas da Orpheu.
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