quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A palavra, a mãe que me espera
ao fim desta viagem de cegos
é uma árvore compassiva a que me encosto
quando estou cansado e não quero cair ainda.
Um bosque cheio de veredas
e não sei se foi esse o melhor caminho.
Aceitei-o. Precisava de uma companheira mais leve
do que o cheiro a tulipa negra da morte.
Navego num chão labirinto e vou com as águas
que todas as coisas são; adapto-me
ao vaso delas, à concha de palavras
que não colhi ainda. Foi bom termos tido
uma vida quase esquecida. Encostados a sílabas
como se fossem árvores de família.
As palavras não acrescentam nada,
mas como dizer o que não pode ser dito
em silêncio? Talvez possamos ajudar a desarrumar
a casa pobre que somos; talvez sejamos apenas
um espelho melancólico
onde se reflectem os nossos irmãos.

Para o António Ramos Rosa.

Casimiro de Brito

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