quarta-feira, 6 de outubro de 2010

GRILOS EM QUINTA-FEIRA

Grilos ao longo de mil sons cinzentos.
Mas: grilos sempre e só.
Acima de mil sons: este, o dos grilos.
E a percepção assim se forma,
inteira. Ou, se assim o quisermos,
uma cadeira ao longo dos tijolos,
tantos tijolos. Mas são eles que fundem
o olho de aqui estar. Ou o luar
que se abandona inteiro por tantos
mil pigmentos de cantar. Porque
acima de todos (lua, cadeira,
ou até o olhar que se revê
em doce mascarada), são os grilos
que inventam: a noite um carnaval.
E a quinta-feira de mil cinzas:
nada.

Ana Luísa Amaral

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