quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

POEMA DO SEMEADOR

Áspera é a terra, o esforço não tem prémio,
porém, à sombra do pomar -- rubro pomar! -- dos pêssegos do sol
em ti eu vejo, ó torso
de haste, o lírio nunca ausente.

Nenhuma flor, é certo, aponta em meu caminho,
mas desde que teus seios desabrocham na aridez,
em pensamento ressuscito a graça de uma vide
ou faço resplender, à luz do ocaso,
o rosto em fogo das romãs.

Áspera é a terra:
porém quando te despes, calmo trevo,
contaminados pelo aroma de jasmins sem consistência
ergue-se no ar
um canto nupcial de pólens tontos;
e ao embalo dos astros renascendo,
eu semeador,
confiante no futuro,
lavro meu campo ensagüentado de papoulas
com touros cor de mar ou potros como luas.

Péricles Eugênio da Silva Ramos

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