domingo, 9 de janeiro de 2011

Houve tempo em que teve trem e boleeiro
e foi a Sevilha passear o corpo
coberta de mantilha.
Tudo se sabe nas aldeias:
quando um cão ladra ao amante furtivo
ou uma galinha aparece morta.
E tudo se consome.
A princípio, o papel escondido no colchão,
depois as arrecadas, os anéis floridos
e por fim as terras.
Começou por trocar os números
e depois as noites.
Jogava a vida aos dados com os dedos
num copo de aguardente.
Tinha um rosto de maga, passou a ser bruxa.
E as outras persignavam-se e batiam-lhe
com a porta.
Agora o seu trabalho era apanhar a bosta
que arrecadava em em sacas e cestos de vindima.
Um dia eu e mais outras crianças
ao chapinhar na água dum açude
descobrimo-la morta,
inchada e em descanso.
Mas o padre não quis fazer o seu enterro.

Armando Silva Carvalho

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