domingo, 23 de janeiro de 2011

VERSOS DE SABOR ESTRAGADO

Borbulhas pulhas cravavam
as carnes deste mancebo
que uma donzelas de cebo
de mui longe amamentavam.

Tinha pedaços de bocas,
seus olhos pedaços d'olhos,
que foram bocas e olhos
d'outros olhos, doutras bocas!

Álcool de noite e de dia,
mulheres podres dia e noite
espadanavam açoite
naquela carne vazia.

Caía a carne com sono
com tendênia a desmanchar-se
e com tendência a sentar-se
nos degraus do abandono.

Os degraus eram d'outono
caídos, baixos, pesados,
com silêncios vazados
em grande taças de sono!...

E se me ponho a cismar
na aventura do não-ser
meu estro vai fenecer
nos 'scombros d'Além do Ar!

...O fim da tarde era doce
de quebrança e de fadiga:
a boa vida inimiga
tornou-se amiga, isolou-se!

Mário Saa

2 comentários:

Cris de Souza disse...

versos de sabor apurado...

salve, silva!

Ricardo António Alves disse...

Salve, Cris!
O gosto é todo meu.