sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Lixo: aparas de lápis, serradura, papéis
com borras de café, sangue num pano,
jornais amarelecidos, cinzas com cigarros.
E juntar a este lixo as palavras gastas,
os livros queimados, o gosto agora azedo
da bebida e o retrato da outra, preciosa
pedra de sempre mas agora: lixo.
E saber que revolver este lixo é estar
no caldeirão a misturar ouro e vulcões.
E amar este lixo, mesmo no ódio. Voltar
então às palavras mais simples. Deixar
o vento levantar a bruma da poeira
dos cavalos. Entrar nas águas
debaixo da varanda -- olhar o mar.

Eduardo Guerra Carneiro

Sem comentários: