sábado, 1 de janeiro de 2011

NA SUAVE TREPIDAÇÃO DAS RUAS

Na suave trepidação das ruas
mansamente tocado pelo vento de Janeiro
penso que tudo vale mais do que qualquer palavra.
Vejo as portas, as árvores
os pequenos pubs londrinos
com os seus ocupantes de silêncio
que têm nos olhos miríades de fumo e de cerveja
e entendo então que nada há mais
cruel que as palavras ditas e ditas e ditas,
palavras que escondem a grande noite
ou o silencioso sol do meio-dia,
que mal desenham a crispação das tardes
e o absoluto clamor dos parques e dos riachos.
Deixo então que se afastem de mim
os pensamentos e os segredos
e na suave trepidação das ruas,
mansamente tocado pelo vento de Janeiro,
vou com a inocência e a liberdade de um animal
bravio e jovem
olhando as portas e as casas,
as escadas e as árvores,
sabendo apenas que cada passo é
a ponte entre o futuro e o passado,
na suave trepidação das ruas.

Fernando Cabrita

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