domingo, 2 de janeiro de 2011

MELANCOLIA

não tentes os meus cuidados. procura nestes gestos
o obscuro caudal das renúncias. sabes, como eu sei
os limites de sombra desta casa.
sobre a mesa dormem pêssegos incendiados
e um vago olor a ternura desvanece-se sob o coração.
ficaram longe as marés do nosso olhar
enquanto cresciam as arribas da melancolia.
que importam as planícies movediças da memória
o alvoroço dos olhos com que nos descobrimos
e os sóis com que nos cegámos de aventuras?
que importa agora a água de tanta sede comum
o frescor da efémera alegria?
não me procures na hora da deserção, enquanto
vou roubar ao tempo os derradeiros portos
últimos passos, uma brisa de gaivotas e de névoa

João Candeias

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