terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

SONÊTO DO FACHO IMÓVEL

Queimei as mãos no sol de um casario
Que nem pudera revelar mais puro.
Alto, saudoso, inatingido muro,
Onde com o céu rolei, num calafrio.

Brasa de estrêla, crepitar macio
De facho imóvel no silêncio escuro:
Sonho remoto vindo de um futuro
Que muito mal nas mãos desfaço e crio.

Queimei-as na insofrida claridade
Que desnudava as únicas janelas
Abertas sôbre o beco friorento.

Uma aflição de ausente, uma saudade
De azul perdido e flôres amarelas,
Restos de morte, patamar cinzento...

Alphonsus de Guimaraens Filho

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