quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

F. HÖLDERLIN

É de uma tal vaidade, o discurso da poesia.
Por vezes, até nem sinto que as botas que uso
não transportam já consigo o sentido da vida.
E quanto a isso, não há canções, poemas, que o contradigam.
Uma expressão sem rosto, uma frase sem sentido,
a que, a custo, já não se regressa nunca.
Fecha-se então o pensamento, como um pêndulo
à procura do suplício. Ou de uma lição
que não venha nos livros e que, resistindo
interiormente, sobre nós caia e perdure.
Lá fora, só o vento sopra: sôfrego e inseguro.
Fecham-se os olhos, sossobram os esforços -- mas,
na agitação do silêncio, procuram-se apenas os mais puros.

Fernando Guerreiro

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