Canta uma voz de mulher...
Não sei que drama adivinho
Na sua canção qualquer!
Quem canta assim, altas horas,
E acorda a rua tranquila?
Faz-me pena essa canção
E, entanto, gosto de ouvi-la!
É uma canção de amor,
Pobre, anónima, vulgar.
Mas é cheia de amargura:
Escuto-a e dá-me em chorar!
Recordo, então, o passado,
Que julgava morto em mim.
-- Coração, porque acordaste?
-- Ó dor, porque não tens fim?
-- Porque acordaste, passado,
Porque voltaste, afinal?
-- Maldita a hora em que ouvi
Aquela canção fatal!
Cala-te, voz doce e triste,
Deixa, por Deus, de cantar!
Dorme, dorme, coração,
Não tornes mais a acordar!
Rebelo de Bettencourt
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