quinta-feira, 3 de março de 2011

OFÍCIO DE VIVER

Vou sempre além de mim mesmo
em teu dorso, ó verso.
O que não sou nasce em mim
e, máscara mais verdadeira
do que o rosto, toma conta
de meus símbolos terrestres.
Imaginação! teu véu
envolve humildes objetos
que na sombra resplandecem.
Vestíbulo do informulável,
poesia, és como a carne,
atrás de ti é que existes.
E as palavras são moedas.
Com elas, tudo compramos,
a árvore que nasce no espaço
e o mar que não escutamos,
formas tangíveis de um corpo
e a terra em que não pisamos.

Se inventar é o meu destino,
invento e invento-me. Canto.

Ledo Ivo

3 comentários:

Cris de Souza disse...

esse poema deu vida a minha manhã...

belíssimo!

Cris de Souza disse...

(reiventar é um verbo que vive na ponta da língua)

Ricardo António Alves disse...

Ainda bem, Cris,
língua e reinvenção dão-se bem