quinta-feira, 3 de março de 2011

A MATÉRIA DO SONETO

                                         à memória de Artur António da Silva Lino
                                        ao camarada
                                        ao amigo

Este soneto é feito de vertigens,
curvo corvo mordido pelo fogo.
Doze bocas de cidra são virgens
que não voltam mas dizem até logo.

Há corpos enforcados em carroças,
ombros gráceis a arder por sob as tranças.
E mulheres que nunca foram moças
deitam sapos nos olhos das crianças.

Este soneto é beco de poetas,
um pouco de veneno nas tabernas;
aqui rangem fantasmas, morre gente.

Este soneto cheira a meias pretas:
é papoila de cal, sebo das pernas,
oh flor sangrada, ovos de serpente.

Fernando Grade

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