domingo, 6 de março de 2011

CRÂNIO

          AO JOSÉ RÉGIO

Esmigalhem meu crânio e que as legiões
passem sobre ele; e que um novo Átila renasça
e passe também sobre ele; ou que ele seja a taça
que mitigue a sede aos que tenham sede, seja

do que for, e que toda a treva nele se afunde
e o mundo, quando for maior, caiba também
dentro dele, e que ele seja o mal e seja o bem
-- strutura universal onde tudo se funde.

A alma de Baudelaire, sedenta, beba por
ele absinto e a de Giles de Rai -- oh! beba sangue.
Salomé, Taïs, ou Safo, os filtros do amor

e da morte. Que dentro dele o Universo é
mesquinho e Deus, meu Deus!, não tens força, és exangue
para nas mãos o teres com unção e com fé.

António de Navarro