sexta-feira, 20 de maio de 2011

SONETO QUASE MARÍTIMO

Nos ares formas de longínquo porto
E a precária presença do afogado,
Serpenteando pelo chão molhado
Constantes de agonia e desconforto.

Do ponteiro a uma flor passo absorto,
Punhos perfuram gritos no telhado,
Na moldura o retrato inacabado
Espera a fuga de um amigo morto.

Os últimos passantes são as almas
Dos marinheiros que, em ansiedade,
Procuram na viela a rua impura.

Que importam, na memória, noites calmas,
Se o mar está presente na cidade
E se eu já estou perdido em Singapura.

Carlos Moreira

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