sexta-feira, 8 de abril de 2011

Aquela cinta azul, que o céu estende
À nossa mão esquerda, aquele grito,
Com que está toda a noite o corvo aflito
Dizendo um não sei quê, que não se entende;

Levantar-me de um sonho, quando atende
O meu ouvido um mísero conflito,
A tempo, que o voraz lobo maldito
A minha ovelha mais mimosa ofende;

Encontrar a dormir tão preguiçoso
Melampo, o meu fiel, que na manada
Sempre desperto está, sempre ansioso;

Ah! queira Deus, que minta a sorte irada:
Mas de tão triste agouro cuidadoso
Só me lembro de Nise, e de mais nada.

Cláudio Manuel da Costa

2 comentários:

rose marinho prado disse...

Que bonito e que triste...

Ricardo António Alves disse...

Há quem considere este seu compatriota de Minas Gerais um dos maiores sonetistas da língua portuguesa.