domingo, 18 de julho de 2010

CANTO DO MAR E DA TERRA

DE LEOPARDI

Quando o mar adormece e o vento o embala, suave,
Sinto-me percorrer mundos desconhecidos.
Já não me agrada a terra, apenas só a grave
E fluida voz da névoa atrai os meus sentidos.

Mas quando o hercúleo mar ressoa e se recurva,
Em glaucos vagalhões altos e desgrenhados,
Volto os olhos p'rá terra, a que melhor perturba
Meu ser com a magia idílica dos prados.

A terra é bem mais firme, e a floresta espessa
Enche meu coração dum calor inaudito,
Quando o maestro vento, indómito, começa
Sua orquestra, a reger, no palco do Infinito.

Uma árdua tarefa o pescador atura:
A sua casa é um barco, a sua vida é o mar.
Os peixes são p'ra ele uma presa insegura,
E a morte, a velha má, não deixa de o rondar.

Prefiro ouvir o canto errante das nascentes,
Na sombra musical da mata sonorosa,
Quando a martirizada e ruiva luz dos poentes
É a anunciação da noite sigilosa.

Afonso de Castro

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