quinta-feira, 15 de julho de 2010

Nada me parece independente
de mim ou de ti.
O céu
o verde ou o azul do mar
este súbito cheiro a gasolina
a fábrica de cimento
uma gaivota no coração da cidade
a teia cerrada de fios telefónicos
sobre os nossos gestos.

Mas amanhã as formigas atacam as nuvens
mas amanhã as nuvens tecem escadarias brancas
até ao sol
onde sentado em belas janelas góticas
ao luar
uma parte de ti projectará
o sussurro líquido de uma fonte
há centenas de anos perdida
nos líquenes da serra de Sintra.
Então se instalará na lua o luto
e vegetais cortejos de velas
imporão a sua luz ao sol e ao vento, pálidos de susto,
frente aos espelhos moribundos
depois da exaltação suprema.

Áfricas 60
Artur do Cruzeiro Seixas

Sem comentários: