terça-feira, 13 de julho de 2010

PASSANOUTE

Cacilda espevita o fogo mortiço. Inquietas,
insidiosas, chegam as vozes da noite.
Do fundo da mata vêm mal distintas
crepitações, ruídos, quiçá mesmo gemidos.
Arrasta-se o rumor arrepiante, calafrio

da sombra reverberando noutras sombras.
Negras, esvoaçam asas sem ave, ou
será apenas a noite e só a noite?
Xipocué e shiguêvengo acordam
no cerne das árvores, para agitar

mortos e mortificar vivos. Lumes
sem chama, vozes sem fala assombram
de susto e medos inomináveis
quem arrosta afrontar seu território,
zona interdita, chão demarcado

que poucos ousam pisar e percorrem,
sopro maléfico, a densa escuridão. Vamos,
levanta faúlhas e labaredas, incendeia
de luz a noite cerrada, esconjura
para bem longe essa asa funesta.

Rui Knopfli

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