-- o café lento, um sorriso esquartejado
de pé no balcão de zinco.
Pouco mais, terá de convir.
Um gesto de quem não pode
e espera o desastre, qualquer salvação
dessas, para que seja menos visível
a repressão de um cigarro
ou o açoite do tempo no rosto.
Só não quero falar de literatura,
por amor de um deus qualquer.
Foi disso que falámos, não sei se por pânico
apenas. É tudo tão indesculpável: o corpo
encostado assim à demora de um café,
as palavras que quase foram, quase
puderam -- modo de carícia inútil
que deixei ali para que entendesse ou não
a medida exacta de uma treva minha.
Voltei a vê-la, depois, roubada
por um sonho idiota -- coisa
inenarrável em volta de livros
e de igrejas barrocas com elevador central.
Mas também aí não avançámos muito.
E o silêncio existe, pelo menos este.
Manuel de Freitas
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