terça-feira, 25 de janeiro de 2011

OBSESSÃO

Dentro de mim canta, intenso,
Um cantar que não é meu:
Cantar que ficou suspenso,
Cantar que já se perdeu.

Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido:
Cantar que passa perdido,
Que não é meu estando em mim.

Depois, sonâmbulo, sonho:
Um sonho lento, tristonho,
De nuvens a esfiapar...
E, novamente, no sonho
Passa de novo o cantar...

Sobre um lago onde, em sossego,
As águas olham o céu,
Roça a asa de um morcego...
E ao longe o cantar morreu.

Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido...
E este cenário partido
Volta a voltar, repetido,
E o cantar recanta em mim.

Francisco Bugalho

5 comentários:

rose marinho prado disse...

O tema me parece a fragmentação do 'sujeito'.

Ricardo António Alves disse...

Sim. Se você está a referir-se à etiqueta que coloquei, «oficinais», foi porque pretendi agrupar as difrentes poéticas do fazer poético, entre a "inspiração" e a "transpiração" .

rose marinho prado disse...

Entendi, o critério é seu...Claro.
Não teria entendido mesmo. Talvez p falta de acuidade, ou atenção maior.

Cris de Souza disse...

cantei lendo, li cantando.

Ricardo António Alves disse...

e é mesmo de (en)cantar