sábado, 15 de janeiro de 2011

ESTE É O LUGAR

1

a lança aponta sobre o mar o seu dedo
de rocha sedimentar. os gaviões da memória
dormem nas falésias vivas, e um cão, o cão
que sempre uiva no calafrio dos presságios
recorta-se contra a lua.
nada sabemos da benignidade ou dos malefícios
de aqui estar, nem sabemos o que de primordial
acaba ou começa na urgência da História.
este é o lugar onde o mar acaba e a saudade começa.
longe é o berço do mar, no bojo de uma nau
em que a pimenta e o gengibre enaltecem glórias imorredoiras.
ó noite que guardas nos teus recantos
uma esperança que é só nossa, a da terra em expansão
para o coração das gentes, agora que cessaram
alfanges e bombardas e ficou sangue, esse sangue
com que marcámos o rosto e a alma do mundo.
morreu o império, todos os impérios morrem.
desmoronam-se todos os impérios, à boca
do terceiro milénio, e a palavra pára,
suspende-se meditativa, olha o passado
abandona o seu séquito de fantasmas e, no instante
do último alento, vislumbra a esperança
de um novo universo a descobrir

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