Para o colher é preciso
ter vivido em sua carne,
sangrado em seu espinho,
auscultado a sua polpa.
Depois, comê-lo com humildade:
Guardar religiosamente o seu caroço.
Merecer a tatuagem:
beber nos rios do seu Povo,
habitar nas cubatas de barro e de capim,
guardar suas mulheres de lua e noite
e os filhos do amor no coração.
Ter África no sangue
é compreender a voz dos quimbos;
senti-la como reza em noites de kazumbi,
noites de óbito e batuque nas sanzalas.
É velar o morto com o grito de guerra;
pronunciar o desafio à noite que desaba
enfrentar o dia da boémia no mato.
Ser deste céu
é ter o vírus tropical no peito;
fumar o fumo entorpecente da liamba,
temperar a voz no travo do marufo.
É enterrar os pés na terra virgem
até sentir as veias prenhes de virtude.
Cândido da Velha
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