terça-feira, 26 de abril de 2011

HORIZONTE

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o longe, e o sul sidéreo
Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa de longínqua costa --
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe e abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte --
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

2 comentários:

j.e.simões disse...

Vasco Reis, "Romaria" - 1º Prémio do SPN de 1934...
Começa assim:

" - Sou ceguinho de nascença/ Deus o quis e foi por bem.../ Que não vejo assim no mundo/ Tanta dor que o mundo tem..."

O Júri, emocionado pelo facto de o Autor se lhe referir de forma tão evidente, entregou-lhe o 1º Prémio...

Quanto ao Autor deste "Horizonte", de outro livro levado a concurso, intitulado "Mensagem", sabe-se que ganhou no "prolongamento"...

Ricardo António Alves disse...

Ah ah ah! Bem-haja por me revelar a poética do celebérrimo Vasco Reis. Confesso que deste senhor padre só lhe conhecia o pseudónimo e não os versos. E, pelo que leio, vale imenso a pena!
Quanto ao prémio de consolação, foi o António Ferro, que era tudo menos parvo, certamente envergonhado com o alto critério do júri.
A verdade é que a parolice continua, mas as romarias mudaram-se para outras movidas.