sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Meu senhor arcebispo, and' eu escomungado,
porque fiz lealdade; enganou-m'i o pecado.
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Se traiçon fezesse, nunca vo-la diria;
mais, pois fiz lealdade, vel  por Santa Maria,
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Per mha malaventura tive um castelo em Sousa
e dei-o a seu don', e tenho que fiz gran cousa:
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Per meus negros pecados, tive um castelo forte
e dei-o a seu don', e ei medo da morte.
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Diego Pezelho

2 comentários:

rose marinho prado disse...

Que beleza de poema! Que histórico ! Qye humano!

Ricardo António Alves disse...

E é mesmo, Rose. O trovador é contemporâneo deste alcaide de Sousa e da guerra civil entre D. Sancho II e o seu irmão, o futuro D. Afonso III (sempre irmãos e famílias desavindas nesta história de Portugal...). Sancho foi deposto pelo Papa e todos os seus apoiantes que persistissem em terçar armas por si, seriam excomungados pelo arcebispo de Braga, primaz das Espanhas.